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Ano da Fé

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Capítulo VI – O desenvolvimento dos povos e a técnica

68 – O desenvolvimento dos povos depende do desenvolvimento de cada indivíduo. Todavia, embora cada um de nós tenda naturalmente para o seu próprio desenvolvimento, este não pode ser deixado única e simplesmente ao critério de uma liberdade arbitrária (quer a nível individual, quer a nível tecnológico, quer a nível económico). A liberdade apenas é devidamente praticada quando exercida no contexto da Lei Natural. “O desenvolvimento da pessoa degrada-se, se ela pretende ser a única produtora de si mesma”. O mesmo sucede com os povos e nações.

69 – O desenvolvimento humano está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da técnica. Isto porque a técnica é um factor profundamente humano, que mais não é do que a materialização do agir do Homem. Através da técnica, o Espírito domina a Matéria, libertando-se das condicionantes do mundo material. A técnica é uma vocação do Ser Humano, na qual ele se realiza plenamente.

70 – Embora a técnica produza muitos frutos bons, a verdade é que ela pode ser usada de uma forma eticamente irresponsável. Isto é particularmente verdade quando existe uma perspectiva tecnocrática, que confunde a Verdade com o factível. Neste caso surge uma mentalidade utilitarista que acaba por negar o verdadeiro desenvolvimento. A técnica pode tornar-se a ideologia de amanhã, produzindo uma visão redutora (porque não holística) do Ser Humano. É imperativo que a técnica seja usada no quadro de uma liberdade responsável e humana.

71 – Assim, pode surgir a tentação de resolver todos os problemas sociais e económicos apenas com uma evolução técnica ou com uma reforma das estruturas sociais. Embora tais acções sejam importantes, não é possível esquecer que não é possível o verdadeiro desenvolvimento sem uma equivalente reforma moral. Se os agentes económicos, políticos e científicos não agirem de forma ética, os problemas sociais irão sempre continuar, independentemente da eficiência técnica da sociedade.

72 – De igual modo, a Paz também não pode ser encontrada apenas com recurso a soluções técnicas (p.ex. diplomacia, acordos políticos, etc.) se estas não forem complementadas com um serviço ao Bem Comum.

73 – Um dos vértices da técnica que tem tido maior expansão com a globalização é os meios de comunicação social. Também estes podem ter uma influência destrutiva se se colocarem numa perspectiva tecnocrática, em que se lhes confere uma liberdade absoluta. Nestes casos, a liberdade dos media acaba mesmo limitada, quer por factores económico (i.e. as audiências) quer políticos (nomeadamente a transmissão de certas ideologias). Por outro lado, os mass media podem ser um factor de humanização (permitindo uma maior comunicação e informação) se estiverem ao serviço do Bem Comum, ou seja, da Caridade na Verdade.

74 – Um dos domínios onde mais se sente esta tensão entre a liberdade absoluta da técnica e a responsabilidade ético-moral é a bioética. Dada a possibilidade cada vez maior de o Homem se produzir a si mesmo, chamando a si o papel de Deus, impõe-se a escolha entre duas visões do Ser Humano: uma visão aberta ou fechada à transcendência. Apenas uma visão da Ciência aberta à transcendência pode incorporar em si uma verdadeira Razão. “Fascinada pela pura tecnologia, a razão sem a fé está destinada a perder-se na ilusão da própria omnipotência, enquanto a fé sem a razão corre o risco do alheamento da vida concreta das pessoas”.

75 – Caso contrário, a absolutização da técnica conduzirá a uma relativização da dignidade humana, ao permitir a manipulação da vida humana. “Enquanto os pobres do mundo batem às portas da opulência, o mundo rico corre o risco de deixar de ouvir tais apelos à sua porta por causa de uma consciência já incapaz de reconhecer o humano”. Por isso, são condenáveis os avanços tecnológicos que relativizem a vida humana, nomeadamente os embriões (aborto, fertilização in vitro, clonagem, hibridização humana e a pesquisa sobre embriões) e as pessoas doentes e terminais (eutanásia). Particularmente preocupante é uma mentalidade que se vai insinuando e que pretende utilizar o aborto e a eutanásia para fins eugénicos, considerando algumas vidas como não dignas de ser vividas. Esta mentalidade nega a dignidade intrínseca de toda a vida humana. “Como poderá alguém maravilhar-se com a indiferença diante de situações humanas de degradação, quando se comporta indiferentemente com o que é humano e com aquilo que não o é?

76 – Além do conceito de vida humana, o desenvolvimento depende do conceito de alma humana. Actualmente, existe muito a tendência para reduzir a vida interior do Homem a certos fenómenos psicológicos e neurológicos. Tal facto faz com que as nações ricas (embora materialmente opulentas e plenas de ajudas sociológicas e psicológicas) vivam numa constante opressão da alma. Isso conduz a um vazio da alma que se traduz numa dependência de drogas e entretenimento, em neuroses e em alienação psicossocial. O Homem é corpo e alma, sendo que a alma necessita do encontro com Deus. “Além do crescimento material, o desenvolvimento deve incluir o espiritual”.

77 – A absolutização da técnica conduz a um materialismo que dificulta às pessoas o conhecimento das coisas sobrenaturais. E, todavia, todo o Homem já experimentou o transcendente. Experimentou-o em cada novo conhecimento ou amor, que parece transcender o mero conhecimento e o mero amor, transformando-se num “querer mais”. Também a nível colectivo, os povos da Terra devem desejar esse “querer mais”, ou seja, abrir-se à dimensão espiritual que permeia todas as coisas. Só assim será possível um verdadeiro desenvolvimento humano integral, na Caridade na Verdade.

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