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Ano da Fé

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

CORPUS CHRISTI


Antigamente, os católicos sabiam muito bem, mercê de uma catequese mais rigorosa, que antes de receber o Corpo de Cristo, era necessária uma boa Penitência, cristalizada num bom Sacramento da Reconciliação...

Como eu pretendo ser um bom católico... e como não sou mais que os meus irmãos... é exactamente o que vou fazer aqui. Neste dia de Corpus Christi, vou começar com uma penitência que, espero, se traduza numa reconciliação com o Mundo.

Porque foram muitas as coisas que aprendi nestes últimos tempos e ser cristão é ser testemunha das coisas que se aprendem.

Um leitor assíduo do meu blog, que eu respeito muito apesar de estar no campo oposto da barricada, afirmou-me recentemente que as "directrizes da Bíblia" são, por vezes, demasiado "rígidas". Esta foi a machadada final... um abrir de olhos... o final de uma crise existencial que eu começara a sentir há muito... e o significado deste feriado permitir-me-á, precisamente, ilustrar o que pretendo dizer.

Os meus leitores já me conhecem e portanto já devem saber isto que vou dizer (mesmo que apenas intuitivamente). Há uma doutrina com a qual me identifico, que me move, que me interpela... a doutrina católica. Fico entristecido por vê-la frequentemente tão deturpada e incompreendida, mesmo por membros da própria Igreja Católica.

Por isso dediquei-me ao seu estudo. Não só por mim, mas para poder dar um testemunho que pudesse fazer "inverter a maré". Foi aquela fase da juventude pela qual todos passam. A fase em que julgámos que vamos mudar o Mundo. Sem falsa modéstia, pensei que a minha inteligência e capacidade de explicar coisas complexas seriam os instrumentos ideiais.

Mas à medida que a minha missão ia prosseguindo, todas as minhas ilusões se iam desmoronando. Muitas vezes, as minhas intervenções eram recebidas com a mesma incompreensão da própria doutrina católica. E, com o passar do tempo, essa incompreensão acabava por redundar em jocosidade e, por vezes, mesmo na hostilidade. E eu ficava profundamente frustrado. Desesperado, até. Pensando que este Mundo não tinha salvação.

Nunca tive a presença de espírito de me aperceber que Deus nunca agiu assim. Pois... Jesus Cristo é o Verbo, o Logos, a Razão Encarnada. Com certeza, Ele poderia desfazer em pó todos os argumentos contrários e todas as heresias. Mas nunca o fez. Em boa verdade, Ele raramente utilizou argumentos lineares e claros para justificar a Sua posição. Porque sabia que a forma de pensar d'Ele era completamente díspar da nossa, Ele sabia que tudo o que Ele pudesse dizer seria rapidamente deturpado (como ainda hoje sucede). Por isso, Ele preferiu usar de parábolas, analogias, frases incompletas que nos obrigassem a perceber...

... Ainda assim, a incompreensão de que foi alvo fez com que fosse crucificado.

Mas mesmo esta Crucifixão é um argumento espectacular e irrefutável. A Parábola Suprema. A ilustração completa daquela parte do Logos que nós não percebemos totalmente: o Amor.

Não o Amor de que hoje tanto se fala, uma afectividade indefinida e telenovelesca. Refiro-me ao Amor que vai até às últimas consequências, que se dá completamente ao irmão, que ama incondicionalmente mesmo aquele que fere, que chicoteia, que insulta...

Deus é Razão. E Deus é Amor. Não há contradição entre Razão e Amor, ao contrário do que os poetas nos querem fazer crer. Pelo contrário... o Amor é a expressão mais elevada da Razão. O Amor é Razão condensada e purificada.

É por isso que o meu leitor (e todos os que eu já procurei debater e/ou catequizar na minha vida) jamais se poderão converter com todas as coisas que eu lhes procuro explicar. Eu posso dar mil argumentos a favor do namoro de uma rapariga... posso fazer uma lista de "prós" e "contras"... e cada item dessa lista ser muito racional. Mas pedir essa rapariga em namoro nunca será uma decisão puramente racional. Assumir esse namoro será sempre um risco... um voto de confiança... um tiro no escuro... um salto de fé.

Ora, nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Quer isto dizer que Deus também é uma imagem e semelhança nossa. Que queremos nós? Não é Amor? Por que quereria Deus uma coisa diferente? Por que quereria Deus ser um rato de laboratório, muito bem estudadinho? Por que quereria Deus ser uma celebridade, com centenas de livros dedicados a Ele? Por que quereria Deus ser alguém com um perfil muito bem elencado por um qualquer opinion-maker?

Não.

Deus quer o mesmo que nós... quer Amor. Que outra inferência retirar da Encarnação? Da Cruz? Da Ressurreição? Da Eucaristia?

E eu lamento muito ter demorado tanto a perceber. Era algo que eu sabia, sim. Sabia, mas não percebia. Como a criança que debita a tabuada e não sabe nada do que está para ali a papaguear. O meu conhecimento teórico impedia-me de o sentir.

Nestes últimos tempos, sentia-me acossado. Cercado. Profundamente só. Na minha família, emprego e amizades... era como se eu tivesse de esconder quem sou para poder viver em paz. Os poderosos de Esquerda abominam o que eu prego e os poderosos de Direita acham que aquilo que acredito não é importante. E há até por aí muitos sacerdotes e bispos que desautorizam completamente as lições do Magistério, usando os púlpitos para exporem as suas opiniões erradas... Por uns tempos, até o Silêncio de Deus me fustigou.

Mas querem saber? Não é buscando refúgio nos livros que eu encontrei a salvação. Os livros são extremamente importantes e contêm muita Razão... mas não nos podem dar o segredo da Razão Absoluta. Os livros, mercê de serem objectos inanimados e insensíveis, não nos podem dar Amor.

Isso é uma prerrogativa das pessoas. Só elas podem amar e só elas são dignas de receber Amor. Essas mesmas pessoas que me flagelavam com solidão...

Só agora percebo a Cruz. E o valor do Corpus Christi...

Amor significa sempre felicidade. Mas também significa sempre sofrimento. Paradoxo? Sim... por isso é o maior enigma de todos os tempos. Por isso é tão fácil perceber mal o que é...

Quem alguma vez conseguiu viver sem magoar quem ama, que atire a primeira pedra. Não é possível. Amor é proximidade de alguém que é diferente de nós... logo, Amor significa que vamos magoar quem amamos. Deus deu o Seu Amor à Humanidade e, todavia, a Humanidade pouco faz do que magoar Deus todos os dias... tal como fez há 2.000 anos. E, ainda assim, Deus continuou a amar-nos, dizendo: "Pai, perdoa-lhes, que eles não sabem o que fazem..."

É por isso que amar é sempre complicado. É compreensível que "dar o salto da fé" em direcção ao Amor nos infunda temor. Temos medo de ser magoados. E é um medo bem fundamentado. Porque VAMOS ser magoados. Deus também nos magoa. Sempre para nosso bem, é certo... mas o certo é que nos magoa. Acho que é por isso que os ateus têm tanto medo da Fé e tanto medo do sofrimento. Não compreendem como é possível Deus amar-nos e dar-nos sofrimento. Não compreendem que o facto de Deus nos dar sofrimento é precisamente a prova de que Ele nos ama. Que está próximo de nós, apesar de completamente diferente de nós. Que quer que cresçamos, que nos esforcemos, em vez de permanecermos na mediocridade do pecado.

Eu dou o meu salto de Fé. E fui recompensado. Hoje amo todos. Amo Deus. E amo os meus irmãos e irmãs. Amo todos, desde o Papa Bento XVI até aos ateus. Amo todos, desde o católico fariseu até à pessoa com orientação homossexual que desfila em paradas de Orgulho Gay. Amo todos, desde o trotskista niilista até ao capitalista sem escrúpulos. Amo todos, porque todos me magoaram. E, se rapidamente esquecer esta lição (que eu tenho a certeza que a esquecerei em breve) é porque o meu coração é muito mais pequeno que o Coração d'Ele.

Que outra coisa posso fazer senão amá-los? Que sou eu mais do que eles? Não serei eu apenas mais uma célula do Corpo de Cristo? Não serão eles também células dessas? Fazemos todos parte do Corpo de Cristo, porque Ele entrou na nossa Humanidade quando encarnou num de nós. Fazemos todos parte desse Corpo, porque Ele ofereceu o Seu Corpo na Cruz. Por nós. Por Amor.

É este o argumento irrefutável.

É esta a importância deste dia.

Sofro? Sim, sofro... mas, se não sofresse, não poderia fazer parte da maior História de Amor alguma vez vivida.

E, com esta Penitência (que foi também Reconciliação)... irei festejar o grande Amor que Deus tem por mim, recebendo-O dentro de mim... E rezar para que todos nós, um dia, o sintamos.



PS: Mas continuo a gostar de livros :P

1 comentário:

Alma peregrina disse...

Imagem (topo): "Fons Vitae" ("A Fonte da Vida")
Autor: Colijn de Coter
Local: Santa Casa da Misericórdia, Porto
1521


Imagem (fundo): "A Criação do Homem"
Autor: Michelangelo Buonarroti
Local: Capela Sistina
1512