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Ano da Fé

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sábado, 5 de março de 2011

AINDA FARÁ SENTIDO O CARNAVAL?



"Mascarada" - Cheret, ca. 1900
 

Vivemos numa sociedade secularizada, que a torto e a direito invoca a separação do Estado e Igreja mas que, paradoxalmente, ainda acomoda no seu calendário as festividades católicas.

O Carnaval, embora não seja em si uma festividade católica, é uma festividade que apenas existe graças ao Catolicismo. Carnaval vem de "carne vale", ou seja, o "adeus à carne". Quer isto dizer que as pessoas tendiam a usar este dia para banquetear-se com carne e outros divertimentos, a fim de armazenarem as energias psicológicas necessárias aos 40 dias de jejum e penitência da Quaresma.

No entanto, verifica-se hoje uma perversão no sentido original das coisas... As pessoas festejam livremente o Carnaval, mas não jejuam nem se penitenciam na Quaresma. Significa então que festejam... o quê? O "adeus à carne"? Não há adeus à carne quando, no dia seguinte, se vai comer carne!

Daqui se depreende que as pessoas festejam o Carnaval, mas não festejam o seu significado real. Que é o mesmo que dizer que festejam sem motivo. Festejam simplesmente para terem um pretexto para festejar. O festejo é um fim em si mesmo.

Podem, deste modo, festejar o Carnaval na 3ª feira e, na 4ª feira seguinte (se tiverem forças para isso), festejar outra coisa qualquer, mesmo que sem qualquer motivo específico para isso.

Isto pode parecer benéfico e inócuo à primeira vista. Uma libertação de um rigidez prévia e escravizante... A liberdade de nos alegrarmos sem termos que pagar por isso, sem termos de nos entristecer em troca. No entanto, não é isso que sucede...

Os povos antigos (cristãos, judeus ou mesmo pagãos) instituíam um calendário de festas, que serviam precisamente para impregnar algum sentido às vidas, instituições e fenómenos naturais ou políticos. Não se limitavam a festejar por festejar. Festejavam com algum motivo. Festejavam as colheitas, a Primavera, o aniversário de uma batalha ou de um grande rei, o Êxodo da escravatura do Egipto, a Encarnação de Deus, a Sua Ressurreição... o "adeus à carne" antes da Quaresma.

Festejar sem motivo, apenas porque nos dá na gana, é uma invenção do pós-modernismo. Um pós-modernismo que padece de uma mentalidade niilista e imediatista, segundo a qual não tem sentido, logo mais vale divertirmo-nos enquanto podemos. Por isso, devemos fazê-lo simplesmente quando podemos e queremos, sem mais nenhum ditame exterior.

Estes novos festejos não são, por isso, festas no verdadeiro sentido da palavra. São alienações. Uma forma de as pessoas tentarem esquecer as agruras das suas vidas, limitando-se pura e simplesmente a abstrair-se delas, a não pensar nelas.

O problema é que, esvaziando os festejos de qualquer sentido, o que se obtém é a banalização da festa. O facto de se estar sempre a festejar, acaba por aborrecer, por enfastiar. Demasiado bolo é enjoativo, demasiados bailes são cansativos. E, em breve, deixa de haver o que quer que seja de especial numa festa. Apenas a alienação resta...

"Cenas de Carnaval" - Tiepolo, ca. 1750
Quer isto dizer que a única alternativa é festejar a Quaresma? Teremos de suportar 40 dias de privações para compensar 3 dias de folgança? Sim... e não...

"Sim", porque o festejo de um evento implica também o seu inverso. Se nós festejamos alguma coisa boa, estamos também a festejar o desaparecimento da antítese má da coisa boa. Assim, se festejamos o aniversário de alguém, festejamos também o fim de um período durante o qual esse "alguém" não existia e não nos fazia felizes como faz hoje. Se festejamos o Natal, festejamos o fim de um período da História em que Deus não estava presente no meio de nós de uma forma que fosse apreensível aos nossos sentidos. Se festejamos o Carnaval, festejamos o facto de ainda não nos encontrarmos na Quaresma. O Carnaval é sombra da Quaresma e não existe sem ela...

Mas "Não", porque existe ainda uma outra festa, ainda mais importante. A Páscoa! A festa mais importante do calendário cristão! Porque se festeja a vitória de Deus sobre a Morte!

A Páscoa é a verdadeira antítese da Quaresma! A Páscoa festeja a Vida, enquanto a Quaresma se comove com a Morte! A Quaresma é sombra da Páscoa, tal como o Carnaval é sombra da Quaresma!

Então, por que será que a nossa sociedade pós-moderna se compraz tanto no Carnaval e tão pouco na Páscoa? Por que será que as escolas põem os nossos filhos a desfilar mascarados no Carnaval, mas não os colocam numa procissão pascal no Domingo de Aleluia? Por que há cartazes nas paredes e serpentinas no chão a propósito do Carnaval, mas um silêncio atroz aquando da Páscoa?

[Ponhamos de lado o laicismo agressivo, que vê um significado religioso na Páscoa que não vislumbra no Carnaval (muitos dos ateus que nos governam até devem regozijar com o Carnaval, porque devem julgar que é uma festa pagã e, logo, anticristã).]

É que a Páscoa celebra um outro tipo de Vida! A Vida que triunfou sobre a Morte! Mas uma Vida não pode triunfar sobre a Morte se não sofrer essa Morte! Sofrimento esse a que as sociedades pós-modernas são alérgicas...

Por isso, estas sociedades preferem celebrar a Vida sem a Morte. Destroem a Páscoa, para destruírem a Quaresma. Celebram apenas o Carnaval e rejeitam a Quaresma... sem se aperceberem que, ao destruir a Quaresma, estão a destruir o Carnaval também.

Querem libertar a Vida da Morte sem passar pela Morte! Mas isso não é possível! A Morte existe e é inevitável! Não se pode celebrar o Carnaval para sempre... um dia, por muito que o festejemos, o Carnaval chega ao fim, inexoravelmente!

Um Carnaval sem Quaresma é uma vida que festeja como doida até ao dia em que a morte chegue... Depois, acaba tudo! Um Carnaval sem Quaresma é uma festa sem Esperança.

Só quem acredita numa vida que triunfa sobre a Morte depois de ter atravessado os vales tenebrosos, só esse tem Esperança!

A Páscoa é festa que liberta! É a verdadeira Liberdade!

Mas uma verdadeira Páscoa precisa de uma verdadeira Quaresma!

Então, celebremos o Carnaval, para podermos aguentar essa Quaresma e podermos recolher o prémio no final!

Só assim o Carnaval tem sentido!

E só assim poderei festejar o Carnaval sem cair nos deboches e orgias que, muitas vezes, marcam este feriado! Porque o Carnaval tem um fim último, que é a Páscoa, devo celebrar o Carnaval com a alegria que Deus conquistou para mim, mas também com a dignidade de uma alma pela qual Deus morreu...

Deste modo, desejo a todos os meus leitores, um feliz e alegre Carnaval, no verdadeiro sentido dessa festa!

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